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Publicado em 18 de março de 2025
Revista PEGN

Como transformar um hobby em negócio

Ao contrário do que muita gente pode imaginar, não basta gostar de determinada atividade ou ter facilidade para desempenhá-la. Isso não é garantia de sucesso de um empreendimento. Antes de transformar um hobby em negócio é fundamental pensar no assunto como um... negócio. “Um hobby está associado a algo pelo qual se tem paixão, prazer, ambos fatores importantes para se considerar ao montar um empreendimento. Afinal, o empreendedor vai passar a maior parte do seu dia, quem sabe, da sua vida, ligado a ele. Mas isso não é suficiente. O foco deve ser o consumidor, e não somente a ligação da pessoa com aquela atividade”, explica Luiz Fernando Gomes Pinto, coordenador dos cursos de graduação em Marketing e Gestão Comercial do Senac EAD.

O especialista ilustra com um exemplo: imagine uma pessoa que tenha como hobby criar seus próprios vestidos. Amigas mais próximas podem se interessar e, então, ela decide montar um ateliê de costura para confeccionar peças sob medida. “Nesse caso, o design do vestido, o tecido, os detalhes, tudo deverá atender ao gosto das consumidoras e não da empreendedora”, reforça Pinto.

É interessante, ainda, refletir sobre o hobby em si. Em geral, ele está associado a prazer e relaxamento, por isso, quem pretende fazer dele um negócio precisa realizar uma autoanálise para definir se a atividade que pratica em momentos de lazer pode se tornar seu meio de vida.

“Pode ser bem diferente ter de fazer algo como um compromisso versus fazer algo por distração, nos momentos em que escolhe se dedicar a ele. Para o trabalho trazer significado, realização e propósito, mas também renda – inclusive para substituir outras atividades remuneradas preexistentes – é necessário um bom planejamento, muita dedicação e resiliência”, afirma José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School.

Mais uma questão para quem pensa em transformar um hobby em negócio levar em conta: o futuro empreendedor tem conhecimento sobre as atividades de todas as áreas que envolvem uma empresa? Ou sabe “apenas” executar aquele hobby? Dependendo do conhecimento exigido, vale a pena avaliar a possibilidade de contratar um especialista ou até convidar um sócio para fazer parte do empreendimento. “Aliás, essa última opção é importante quando se precisa de experiência estratégica, chave para o sucesso de qualquer negócio”, pondera o coordenador do Senac EAD.

Ele lembra que, sobretudo nas empresas de pequeno porte, é comum o empreendedor assumir parte das atividades operacionais, ao menos no início, e aí surge um ponto de atenção: conforme vai crescendo, é interessante atribuí-las a novos responsáveis, porque só assim o gestor terá condição de cuidar do negócio do ponto de vista mais estratégico.

Planejamento e estudo

Consciente de que hobby e negócio podem ser complementares, mas são coisas distintas, vale saber que algumas atividades têm maior potencial de se transformarem em empreendimentos. São aquelas que podem solucionar uma necessidade mal atendida ou ainda não atendida pelos concorrentes. “Dá para dizer que a maioria dos novos negócios se dá em setores com baixas barreiras de entrada, que necessitam de menos capital inicial ou de conhecimentos específicos”, informa Pinto.

De acordo com a Global Entrepreneurship Monitor – GEM Brasil (principal pesquisa sobre empreendedorismo no mundo), de 2023, as atividades que mais se destacaram entre os novos empreendedores, ou seja, aqueles que possuem negócios entre três meses e 3,5 anos, foram atividades relacionadas à alimentação (10,1%) e a serviços de comércio relacionados à estética, beleza, higiene e perfumaria (10,3%).

Alguns hobbies, de fato, têm vocação para se tornarem um negócio, como os ligados à culinária (fazer algo para venda direta ou abastecer um comércio); fotografia, desenho, artesanato, música, desenvolvimento de sites e atuação em mídias sociais, por exemplo. No entanto, para decidir pela profissionalização, é preciso respeitar algumas regras, como análise de viabilidade, levantamento de investimento, tempo de maturação e conhecimento do mercado.

Para entender se é viável transformar um hobby em empreendimento, vale estudar. Primeiro, avaliar se há consumidores que têm interesse no produto ou no serviço. Depois, dá para realizar uma pesquisa de mercado. Com base em um protótipo ou desenho do produto ou descrição do produto ou do serviço, converse com algumas pessoas e cheque se elas teriam interesse e quanto estariam dispostas a pagar por ele. Suas opiniões são úteis também para fazer eventuais ajustes.

“Outra estratégia que pode ser utilizada é o MVP (Mínimo Produto Viável). Você pode começar o negócio com uma linha de produtos ou serviços com poucas opções ou pouca variedade, e ir ampliando com o tempo, à medida que for conhecendo os reais interesses do seu consumidor”, sugere Luiz Fernando Gomes Pinto, do Senac EAD.

Empreender a partir de um hobby demanda uma série de resoluções: “Realmente gostar do hobby e apresentar algum talento; ter em mente o que quer desenvolver; definir um diferencial ou algo que possa ser explorado; contar com opções de financiamento (recursos próprios ou de terceiros, capital de giro, retorno); ter espaço adequado para a realização da atividade; ter um meio de divulgação eficiente, por exemplo, nas mídias sociais”, sugere José Carlos de Souza Filho, da FIA.

Por fim, ferramentas como a Modelo de Negócios Canvas podem ajudar a estruturar a ideia de um novo negócio, segundo explica Luiz Fernando Gomes Pinto. “É fácil de aplicar e consiste em um quadro composto por blocos interrelacionados. Ela ajuda a avaliar a viabilidade e apresenta um direcionamento para a estruturação inicial”, diz. Veja o que inclui:

- Proposta de valor: definição do que a empresa vai oferecer para o mercado, ou seja, o produto ou serviço, destacando o valor que ele irá proporcionar aos clientes (as necessidades e expectativas atenderá).

- Segmento de clientes: para quem o produto ou serviço será oferecido.

- Canais com clientes: como será a comunicação para a distribuição do produto ou do serviço.

- Relacionamento com os clientes: definição da forma como essa comunicação será realizada.

- Atividades principais, parcerias principais e recursos principais: determina o core do negócio; quem vai participar da execução (a empresa pode terceirizar alguns processos por meio de parcerias estratégicas, por exemplo) e a infraestrutura para viabilizar o empreendimento.

Estrutura de custos e fontes de receita: além de listar as possíveis despesas, também ajuda a definir outras possibilidades de ganhar dinheiro, além do objetivo principal do negócio. Um ateliê de costura, por exemplo, além de vender roupas sob medida, também pode ofertar serviços de ajustes.

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